quinta-feira, 15 de outubro de 2009

assimetria..

muitos confudem os olhos de nomadismo com uma falta de cumplicidade.
Andei pensando esses tempos sobre pq o incomodo em ver que o outro passeia e transita a todo momento, mesmo quando a cumplicidade nao é questionada?
O medo do frágil...parece que algo que transita é fragil demais...e isso deve dar medo como quem pisa em ovos. Afinal, quem quer viver com a angústia de ser deixado a qualquer momento?
E o mais cruel, é que nunca sabemos.
De um minuto pro outro, algo que nao parecia tao fragil para um, tornou-se uma miragem...e o que era fragil pro outro, em pedaços.
Ao mesmo tempo que aquela musica de Miles Davis continua a tocar cada vez mais em alto e bom som! E esses laços vão se entrelaçando cada minuto mais...
Como pode!
Em uma paisagem há um desentrelaçar, um incomodo, um jogo de olhos e afetos soltos...em outra há o fortalecimento de um no outro, como se passássemos a habitar-nos.

Aquele jogo de cores em que toda escolha e tempo e momento muda os tons afetando de pouco em pouco cada sentido da vida...

Parece-me que ela é isso mesmo...grandes encontros, algumas despedidas, mas para quem percebe a sintonia além dos corpos, não é o ser quem se despede...ele somente deixa de habitar de uma maneira, e passa a habitar de outra... para quem a sintonia realmente é verdadeira, esse habitar nunca deixa de existir...
Aprendo a viver com a assimetria nossa de cada dia....

terça-feira, 29 de setembro de 2009

que é isso?

"é como uma sensação aguda que causa mal-estar."
Seria essa uma boa definição do que é dor naquele momento?
Logo após uma reflexão a respeito de uma resposta minha a um teste projetivo. Essa foi a pergunta que me fizeram, e eu tive de responder o que me vinha a mente, afinal, falar "não sei" não me parecia cabivel... eu devo saber..em alguma medida, em alguma experiencia.
E porque tão dificil falar em palavras que passam pela consciencia, linguagem, significados? A ordem do afeto diz por si. Expressa-se por si, vezes numa catarse... mas tem horas que precisamos falar e universalizar o que sentimos.
Assim nos fazemos reconheciveis uns para os outros...borramos a linha entre "eu e você."..nos identificamos, afinal, sentimos algo parecido.
Humanos sentem dores parecidas, criam repertorio para ela, para sua definicação, bem como para o amor, o tempo, a pausa, o silêncio, o choro, a tristeza.
Tudo vem carregado de nós e do mundo de séculos, e séculos...
Uma dor que pode afetar a garganta, paralisar a voz, a vontade de chorar, apertando o nó bem dado. Pode afetar o estomago, o peito, o pulmão...a falta de ar.
Pode afetar o que somos...como vemos o mundo...como lidamos com ele.
Uma perda antecipada e senil, faz sentir dor. daquelas que nos movem ao desconhecido em nós...ou que nos faz ficar estáticos, olhando tudo que diz ter vida e questionando-nos quanto ao sentido de tudo aquilo.
Uma dor pode ser poderosa,ameaçadora, criativa, dócil e bruta. Tudo ao mesmo tempo!
Aplaudir até sentido dor, dizem que é amor.

Seria ela a tinta com que se borra o normal e o patológico? A moeda com que se pagam ações nao aceitas? A vingança dos Deuses? o limite de sobrevivencia? Um aviso ao corpo humano de algo nao funciona bem? A sensação aguda que causa mal - estar?

O que seria dor, afinal?
Foi o que me perguntaram...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

.um tempo com sentido e direção.

Nada melhor que a experiência...
Um instante a mais que se cria com o espaço, que parece ser uma outra visão...
E de fato, é outra visão que se tem do mundo depois de experienciar!
Incrível como as coisas vão mudando de lugar, de contexto e significado...seria então, a vida, atemporal? Onde a experiencia é quem dita a transformação e o ritmo?
O tempo... ainda é para mim algo indecifrável e altamente qualitativo. O tempo passa...dizem que não volta, não.
Será mesmo que ele tem sempre o mesmo sentido?
Não poderia ser em círculos, um espiral? Em que todas as épocas acontecem ao mesmo tempo, mas em outra dimensão?
Isso já chegou a ser tema de uma conversa de jovens adolescentes precupados mais com a temporalidade do homem, do que com a aula dada na escola, aula esta que dificilmente era interessante...("bons tempos aqueles tb")

O fato é que o relógio marca lá algo...
mas talvez não seja o tempo em si. No sentido subjetivo da coisa...
Hoje, dois senhores de cabelos brancos já com a feição que declarava a experiencia de suas vidas, se encontraram na rua...O sorriso que lhes brotou no rosto fez-me parar e não pude deixar de escutar o que um deles disse após um grande abraço:

"É...o tempo passou para nós"

Mas ele dizia isso com uma alegria que nunca vi!! E um sorriso que foi emocionante...não haveria outra palavra para isso...
O tempo passou...
A vida não passou...
Por que mesmo que existe sentido e direção?
"Voltar ao passado? Que horror!", dizem alguns que defendem com unhas e chifres a visão "para frente", "pro futuro"...isso sim é algo que deve ser feito da vida! "Olhar para frente", dizem eles...
Outros, já percebem o mundo de outra maneira...sentem falta do seu tempo...
"Ah, mas no meu tempo isso nao acontecia", é o que dizem...e com uma tristeza de quem quer voltar! Voltar para onde?

Vejo que ele angustia todas as partes... o passado que nao volta, o futuro que nao chega..o presente que dá choques...

Penso que estamos olhando pro lugar errado...
talvez não seja o tempo quem dita as coisas..
talvez nao seja ele que "passe"... e nem fica parado a ponto de podermos voltar a ele..
Tempo não é um lugar...nem hora...
nem sei mesmo se ele existe.

Sei que a experiência na vida é o que nos transforma...é o que nos faz olhar para momentos diversos e percebe-los da maneira como deve ser... e se ficar diferente, tornar-se-á diferente.

Nada como saber olhar para uma criança, já que com grande experiencia marcada nos olhos, sorriso e alma, e percebê-la em sua imensa e completa dimensão...

A imagem que fica hoje?
Um senhor... que soube escutar um choro...pegar sua pequenina mão...e caminhar um pouco...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

.Quem se fez ali?.

Quem se vai ali?
O anoitecer virava do avesso...e fazia despertar...
Acordava calmamente a alma de um sono profundo...e aconchegante de ombros..
Convidava a dançar algo que não sabíamos o passo.
Improviso?! Nada melhor que o risco de improvisar notas nos ares da madrugada...notas que se calavam com a boca...os olhos que nada enxergavam além da ausência de luz...dos contornos...
A música começara...como o trompete de Miles Davis que enchia os olhos d'água e o jazz de bossa...
Cada minuto virou horas...e horas...e horas...
Um ritmo que encontrava o pulso já não tão lento... e fazia girar! Como numa ciranda , brincadeira de roda...em que não se ve mais o início...nem fim..nem meio...apenas estava ali algo que girava com tanta percepção que pela primeira vez não perdi nem um detalhe sequer da canção...
Ah! Como era bela de ouvir!
O corpo todo é um ouvido...já diziam...e o é mesmo!
Ao final dos improvisos delicados...uma pausa.

...

a música estava iniciando o seu final daquela vez...com arpejos...que foram indo...indo...até quase nao se ouvir...

...

Era o amanhecer que vinha cobrir o sereno da madrugada que se instalara na pele exposta... Era como uma canção de acordar...em que os olhos novamente se viam...os sorrisos se cumprimentavam...o corpo todo se dava bom dia.
Quem ficou ali?
Um todo bem muito maior que a soma das partes...
Éramos outros...que já sabiam improvisar como Miles...algo que muito me agradava!
...
Em meio a tantos encontros como o poente....esse algo era o único ficava...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

bocas cheias de ser-cura

Horas por vezes passam em outra dimensão.
Entrar n'algum lugar que parece um portal ...onde os que lá vivem são cheios de dores, sofrimentos, ansias de respostas, misturados a outros que vestem o branco da paz, que refletem todas as cores...
De início assusta um pouco os rostos amargos que passam correndo, sendo levados, parados, despesperados para logo serem vistos.
De um lado essa nuvem carregada de multidao... do outro, um vazio....muitas cadeiras...um senhor de 70 anos cujo bom humor ainda prevalecia apesar da tosse insistente...um casal...que se abraçara encostando cabeça com cabeça, olhos fechados e um ar sereno de quem estara sendo amado e sustentado numa hora em que ninguém quer estar sozinho.
Chama-me o nome.
Entro na sala onde vivia um moço baixo, fisionomia de chileno e alguns pelos no rosto...
Viu-me, perguntou-me, parecia cansado pois era noite...sabe-se lá desde que horas ele estara ali morando naquela cadeira.
Mas com esforço, foi atencioso...ao menos me viu e escutou,o que para minha pessoa, já surpreendia um pouco vindo de alguem do condado dele!
Fui a outro bairro....onde estavam aqueles que mais precisavam de amparo, e estavam com os olhos cheios de esperança...e as bocas cheias de ser-cura.
Lá ficavam...cada um com sua dor calada...um de frente pro outro...reencontrei o senhor de 70 anos que ainda sorria...jovens cansados...mulheres nervosas...e uma, que escondia a lágrima que escorria debaixo das lentes que a fazia ver o mundo do seu jeito.
Logo, tirou as lentes da frente...e deixou as lagrimas escorrerem por si só pelo longo caminho do rosto...
Mais nomes sao chamados...Mais horas de espera que viram dias e anos para quem vive em outra dimensão.
Chamam o meu.
E novamente, visito uma estação de trem...onde subíamos num vagão pelo tempo que precisara ser a viagem...
Muitos daqueles que vestiam a cor que reflete todas, emanavam seus sorrisos e tiravam esse movimento de cada um que entrava naquele vagão.
Encostavam em nossos braços....nos davam um pouco de ar....em meio a uma cidade em que quase nao se respirava...
Faziam pingar no sertão da arte do cuidado! E com cada pingo desse, uma flor parecia nascer...mesmo que torta e desajeitada, transformando cada viajante em ser-tão...
Um ser-tão que carregara sim seus sofrimentos, mas que estava sendo cuidado e olhado por outro...tocado...ouvido.
Ah, como isso acalmava os olhares! Estavamos todos mais calmos e serenos...
Encontrei novamente o senhor de 70 anos que tinha pavor de agulha! Mas saltara esse obstaculo com muita elegancia naquela hora...e novamente a senhora que derramara suas lagrimas...
Era assim que ela conversava com o mundo. E assim, eu podia entendê-la e quem mais estivesse ali querendo saber do outro.
Alguns outros chegavam àquela cidade sendo levados diretamente pro isolamento. Não viram os pingos do sertão como eu vira acontecer...
Mas espero que no bairro deles, chova o suficiente para que flores nasçam! Para que o sertão mostre tua beleza e teus lugares criativos, cheios de organismos ainda não tão bem identificados e que chamo a cada um, hoje, de "ser-cura"....
As rachaduras do solo seco, fazem todo sentido...de fato criam possibilidades pois preparam o campo tornando-o fértil para quando chegarem os pingos... E cada momento desse, me lembro da importância de se demorar junto às coisas...


Há de chover.

Nada como uma noite no hospital vista com outros olhos....

sexta-feira, 17 de julho de 2009

.pessoas que pingam.

Um ser diferente...que a cada vez se redescobre num mundo novo, recriado e vestido por ele mesmo. Ele, aquele que vê, enxerga, faz: o artista. Mas muitos perguntam:
- "artista de que, cristo?" Se respondemos da argila, da tela, da camera, do movimento, do som, fica facil compreender...a criatividade já vem carimbada no pacote...
E se dissermos:
- "Da vida, das relações, do afeto..."?
Uma cara de espanto e lucidez em forma de suor começam a escorrer do rosto daquele que perguntou...ele logo se afasta...e volta sua caminhada ritmada.
O outro? Continua...um pouco sem andar...apenas olhando quem passa...observando os braços que passeiam da mesma forma pela massa de ar que nos encobre...
Olha para cima...vê as nuvens que parecem também pegar o metrô pro Paraíso..ou pra Ana Rosa...Afinal, estão sempre correndo..voando...em velocidade suportável...
O Artista torna a olhar para baixo, vê os pés coloridos, vestidos, outros nus... num compasso de máquina de escrever quando não tem pausa. e se tem? São todas as teclas juntas.
Parou a música?!
- "Se parar. cessem os movimentos!"
- "E quem disse que o silêncio não é musica? Que nossos saltos nao são musica? A roda dos carros passando em cima da poça d'água já suja?"
Um alguém pára o outro na rua e convida:
- Dança comigo?!
- Não posso...estou atrasado...uma outra hora...
- São apenas 60 segundos!
E os passos ficam longe, longe...sem querer dançar...sem se deixar dançar..
E ninguém quer dançar.
Faz tempo que não chove no mundo da arte!
Faz tempo que quem vive no sertão da estranheza e da solidão, não vê um pingo sequer!
E os que vê? Passam longe... fogem carregados por nuvens que só aceitam o destino do paraíso...
Afinal, quem quer o destino do sertão? Um sertão incerto...vezes seco, outras molhado...rachado, sustentável...ao mesmo tempo criativo, rico...não aquela riqueza vista aos olhos...mas aquela que reinava no mundo do pequeno príncipe...
Um risco que se corre morrer de sede a vida toda...cadê os pingos que são carregados? Ninguém se solta da certeza das nuvens cinzas?
Mas há quem pinga!
E em cada gota dessa....vida, amores, dimensões outras germinam por si só...


Como é belo germinar por si só!

E quem sabe disso...?
- "Apenas o artista que vive no sertão da arte da estranheza e da solidão..."
Não escolho saber...mas sei.

domingo, 12 de julho de 2009

.infinito meu.

Infinito....
Teu...meu...o que for...
Ainda sim o encontro de pernas, braços, pausas , colcheias, pés....
Estes mesmos que antes caminhavam tão lentamente....rastejantes...tilitando os tais dedos...e que agora voam.....
As mãos também voam no tempo e espaço.....mesmo que estes se percam em nossos olhares....nossa respiração....nosso tom e semitom...
Afinal, a beleza está nos comas da vida....da morte....
A cada segundo algo morre em nós....outro algo nasce...outro se fortifica...cresce....reproduz....produz....
Mutações....contradição....vontade...é a beleza de nosso ser....
Nosso ser tão jeitoso....bonito ao meu ver....
Vida que desabrocha.... e bebe da água límpida....cheia de cor, saber e cheiro......
Vida minha que bebe de gota em gota ..e dentro de cada uma...um arco-íris desejante para sair dali....

02h24 – 02 agosto 2007

sábado, 11 de julho de 2009

.poder em folhas de papel.

Um mundo cheio!
Cheio do vazio que paira pelas cabeças daqueles que mandam...Qual o critério? Ter novas idéias? Ser criativo? Fazer o trabalgo que deveria ser feito? Ser verdadeiro?
Não.
O critério são folhas de papel...que se transformam em palavra de ponto final.
Alguém nos perguntou se queríamos pagar pelo que não queremos? Se queríamos envelhecer numa miséria e trabalhar mais, para pegar mais filas, para gastar nosso reforço positivo mínimo em coisas invisíveis? Onde estão as grandes melhorias da nossa organização? Onde está cada livro, cada professor, cada profissional da saude, cada parede e estrutura que deveriam estar firmes, fortes e felizes por de fato fazerem algo que dê um retorno certo?
Alguém nos perguntou se queríamos nos dissociar do nome, da Instituição, do Projeto Político Pedagógico que forma pessoas com concepção diferente daquela calcada no individualismo e massificação do mundo de cada dia?
Perguntaram se o atendimento medico está sendo compreensivo, sensível e eficaz?se as pessoas gostam de serem tratadas como saco de órgãos e serem entupidas de química que dizem fazer bem?
Se estamos contentes com a presente estrutura de governo?
ALGUÉM PERGUNTOU SE A DEMOCRACIA JÁ CHEGOU A EXISTIR UM DIA?!!!
Se esse bando de animais loucos e sedentos pelo dinheiro e pelo poder de palavra final tem capacidade de governar a vida social de todos? A escolha que cada jovem faz ? Os desejos mau construídos? O sofrimento da doença sem cura? A dor de não ser sustentado e cuidado? O fato de não ter onde dormir, comer, banhar-se? A exploração do trabalho mau pago?
Quem é que está anestesiado?? Quem pediu para estar indiferente?

Um jogo de muito mau gosto esse de respostas jogadas sem perguntas, senhores...
Um jogo de muito mau gosto fazer tudo sem perguntar, sendo que a pergunta com resposta é o que transformaria um país...

Transformar? Desculpe...falei a palavra que é extremamente desconhecida aos senhores da Câmara...

.penduradas.

Lavar a roupa suja é algo extremamente necessário.Imagine. Tentando vestir algo que nem lhe cabe mais de tanto resíduo grudado ali.Então lavamos. Uma beleza da tecnologia, inventar a máquina de lavar!!!! Uma máquina mesmo... que faz tudo! A gente nem precisa encostar na roupa direito...Mas ainda há aquelas que precisam ser lavadas à mão. Com mais cuidado. E assim é feito.Pra secar, a gente estende a roupa no varal...Tira as que já secaram. Coloca aquelas molhadas, recem-lavadas, ainda pingando.E ao varais pingam. Por horas e horas. Parece que o sol não vem hoje, não.E tudo bem! Elas ficam ali, esperando pra estarem secas, e serem retiradas do varal desconfortável.Não são elas a causa da gripe.Mas sim a peça de roupa que uso no corpo....Ela parece estar úmida já há algum tempo...e sem o sol, não seca.
Espero ele chegar então.