quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

tarde.


Já chegou o entardecer
Céu rosado pinta os olhos de quem vê
Já se foi o dia de se entristecer
Quem vem?

É tarde
Céu se casou com terra e deu no pé a criadeira
Deu fé na corredeira
Choveu!
Fez crescer nossa morada de horizontes, madrugadas
Muito amor pra se colher

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

branca.

E ela estava ali. Frente a um exército de nós que deveriam ser desatados.
Estava branca, não tanto pela palidez que lhe era natural, nem pela pouca melanina que lhe habitava o corpo. Estava branca de alma, branca de olhos, branca de afeto.
Olhava os nós serenamente. E nada, nada sentia.
Era absolutamente indiferente a tudo aquilo que teria que fazer.
Havia tempo. Era paga pra isso. Não para olhar, mas desatar.
A indiferença pouco importava, mas desatar os nós, isso sim era importante.
Ela se abaixou, encostou as nádegas pesadas no chão, e começou a desatar o primeiro, vagarosamente.
Um olhar tão fundo que mal se sabia onde estavam suas pupilas.
A boca seca não falava um "a" sequer.
Apenas mexia seus dedos já suados,não pelo calor que fazia, mas porque lhe era natural.
O suor deixava os nós escorregadios.

Ficava dificil desatar o primeiro. O tempo passava. Aproximava-se do final do primeiro periodo.
Aquele silêncio não ajudava a otimizar o trabalho que tinha.
ela se levantou. Como se fosse abrir um buraco no chão, tamanha sua falta de ânimo, alegria e cor.
Estava agora transparente e pesada. Soltou o nó quase desatado e molhado, no chão.
Deu alguns passos até uma geladeira que se confundia com a parede torta.
Abriu um pote e lá estava uma comida velha e gelada.
Não fez cara de quem comeu e não gostou, nem de que comia algo delicioso e fresco.
Não fez cara.
Ela não tinha cara.
Não tinha vento.
Não tinha frio.
Terminou sua marmita e retornou ao trabalho.
Ainda faltavam 4 horas para desatar todo aquele batalhão de nós.
Sentou-se no chão, e voltou seu olhar sem olhos para o primeiro nó molhado.
Findado este, pegou o próximo.
No dia seguinte,
ela estava ali. Frente a um exército de nós que deveriam ser desatados.

domingo, 6 de janeiro de 2013

os instantes das sílabas.

um fluxo que se perde em meio a tantos instantes.
por hora achava que não saberia o que dizer a ele. De repente, cada sílaba se disse por si. Saiam como quem vai pra uma festa de gala, de havaianas. Interessadas em sentirem-se confortáveis e belas.
Ficavam assim, rodopiando juntas e separadas... fugiam. Voltavam.
E a cada volta, um reencontro aliviado...afinal, os instantes criativos daquelas pequeninas silabas voltavam a se reconhecer...
Era um tempo grande que se ficava longe delas. Um tempo doído, dificil, mas que faz parte dos instantes tantos que se perdem nas sílabas.
Quem disse que há aviso pra não saber quem se perde aonde, quando e porque?
Quem se perde em instantes, por instantes, com instantes... as sílabas fazem-nos perder tanto. e rir tanto.
que falar e perder vira quase um beijo de cabeça pra baixo...
parece que a festa tem sido boa! com instantes belos e sílabas confortavelmente instigantes.

memória.


Um buraco que fica na memória
É a gente que passa bem mais devagar
É a vida que arde, é tarde pra agüentar
É o tranco sereno de ir embora

Uma presa que fica na teia de lá
Se debate, rebate, só fica
Se cansou de virar uma mosca
Quer ser só uma moça que pode lembrar

Vou olhar bem pro alto e te imaginar
Com os olhos aguando só de alegria
Cada ida é um tempo da gente parar
E se ouvir com mais vez, silenciar

Um buraco que fica na passagem
Nessa coisa de corpo que às vezes grita
O desenho que faz eu te balbuciar
Um sorriso esboçado que quase se apaga

Borboleta que corre de dia a orar
Uma prece da pressa que tem em viver
E ela voa tão calma que dá pra mirar
E pausar essa vida que a alma agita

Vou olhar bem pro alto e te imaginar
Com os olhos aguando só de alegria
Cada ida é um tempo da gente parar
E se ouvir com mais vez, silenciar