Alice caía em si.
O que haveria de tão perigoso em amar?
O que há de tão dolorido e devastador no amor?
O amor em si não parece ter armas...
Parece melhorar o ser...abre os olhos, sensibiliza a pele, estica o gostar. faz nascer um riacho de águas que insistem em cair pelos olhos, não de tristeza.
Por que colocar nele tantas armas letais?
Tantas posses, tantos ais?
Alice caía em si. E com ela o amor caía...Pra dentro dela. E esvoaçava. Era ele quem ela queria. Era ele com quem sonhara. Ele que não estava num só lugar, corpo, pessoa. O amor enfim, era muitos.
Era avassalador. Era carne, osso, imatéria.
O amor atravessou todos os padrões. Foi surpreendido.
Ele mesmo se viu preso. Não era assassino, mas culpavam-no.
Alice não. Não culpara mais ninguém por amar. E amou.
Como quem nunca teve medo de ser só.
Amou intensamente e a cada passo, a solidão aparecia como chão.
Era ela, afinal...A quem todos temem.
Amar pisando a solidão parecia condição mais propícia para aquele corpo.
Alice caía. Para dentro de si. Para dentro da Alice, Alice caía. E assim amava...
quarta-feira, 13 de julho de 2016
terça-feira, 12 de julho de 2016
quando deixei.
Quando
deixei de acreditar em mim
me
separei de mim, de tudo que sinto
Só
senti o medo
E
ele sobrando, faz eco no peito…
Dá
nó na garganta
seca
todas as lágrimas, mas não tira a vontade de chorar…
Quando
deixei de acreditar em mim
Já
não havia mais lugar. O mercado tava cheio. Era tanta gente que
ficava todo mundo só.
Quando
deixei…
Eu
perdi o riso. A gargalhada se despediu profundamente...os desejos se
fantasiaram de nada...e eu os perdi de vista.
Fiquei
patética. Falando das dores. Fazendo o medo me engolir, com casca e
tudo.
Tudo
que sonhei se espatifou...já me confudia… “fui eu que fiz isso?”
“Eu sonhei com esse lugar?”
Não
sabia mais quem eu era...não sabia.
Quando
me deixei…
Fiquei
tão triste...que fingia estar tudo bem e não tinha coragem de dizer
“eu não sei mais quem eu sou”. Meus olhos secaram...meus pêlos
não se arrepiaram mais…
O
prazer virou medo.
Quando
o prazer vira medo a vida se revolta...é mar bravio...é vento
bravo...é Iansã rodeando o que não quer ver.
O
mar bravio de dentro…
Esse
é uma faca no peito.
O
canto paralisa. E sempre parece que tento ser algo que não está
aqui.
A
dor de tentar ser o que não é, é tão imensa quanto a palavra
Deus.
Destrói
sua memória. E você não se lembra quem era...o que quer dizer?
O
que tens a dizer?
Cantar
é dizer...rir é dizer...ter prazer é dizer...E o medo te cala.
Quando
deixei…
Parei
de cantar. Parei de criar. Parei de compor. Parei de musicar.
Porque
nada mais seria suficiente.
E
assim a gente morre...a pior morte de todas…é a morte de dentro.
Abril, 2016.
domingo, 10 de julho de 2016
palavras de horizonte.
Palavras se agitam
para um passeio.
Naquele dia, o
silêncio falou mais alto. Quis ponderar a vida, a ligação entre o
que se pensa, o que se cala, o que se fala.
O silêncio mandou.
Tirano como às vezes é. Rebelde como às vezes precisa.
Não se pode apenas
lhe maldizer.
Mas as palavras
quiseram passear para mais longe...queriam alegremente contar tudo
que se passava dentro do corpo, em detalhes, a todo o céu.
Não puderam…
Seguraram-nas. À
força.
“Não digam nada!
Ou partes deste corpo serão devastadas”. O amor ao corpo era
grande e elas silenciaram. Nada disseram pela boca.
Pararam pra pensar…
Acharam outro
caminho.
Pelos olhos, somente
quem interessa entenderá e saberá. Vamos, vamos caminhar até
encontrar o caminho dos olhos…
E assim seguiram,
silenciosas como quem vai para um passeio no jardim.
Algumas saíram
pelos olhos… Como é palavra voando dali?
Não se explica.
Não se ouve com os
tímpanos.
Apenas outros olhos
as ouviriam.
Ouviram…
E assim conversaram
pelos olhos…
Outras palavras
seguiram pelos dedos.
Olhos, mãos, dedos,
pêlos conversaram entre si.
As palavras que
nunca foram ditas aos céus…
Não entraram em
detalhes, mas se disseram por aí. Acharam seus caminhos.
Encontraram
horizontes…
Olhares de
horizonte.
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