quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

branca.

E ela estava ali. Frente a um exército de nós que deveriam ser desatados.
Estava branca, não tanto pela palidez que lhe era natural, nem pela pouca melanina que lhe habitava o corpo. Estava branca de alma, branca de olhos, branca de afeto.
Olhava os nós serenamente. E nada, nada sentia.
Era absolutamente indiferente a tudo aquilo que teria que fazer.
Havia tempo. Era paga pra isso. Não para olhar, mas desatar.
A indiferença pouco importava, mas desatar os nós, isso sim era importante.
Ela se abaixou, encostou as nádegas pesadas no chão, e começou a desatar o primeiro, vagarosamente.
Um olhar tão fundo que mal se sabia onde estavam suas pupilas.
A boca seca não falava um "a" sequer.
Apenas mexia seus dedos já suados,não pelo calor que fazia, mas porque lhe era natural.
O suor deixava os nós escorregadios.

Ficava dificil desatar o primeiro. O tempo passava. Aproximava-se do final do primeiro periodo.
Aquele silêncio não ajudava a otimizar o trabalho que tinha.
ela se levantou. Como se fosse abrir um buraco no chão, tamanha sua falta de ânimo, alegria e cor.
Estava agora transparente e pesada. Soltou o nó quase desatado e molhado, no chão.
Deu alguns passos até uma geladeira que se confundia com a parede torta.
Abriu um pote e lá estava uma comida velha e gelada.
Não fez cara de quem comeu e não gostou, nem de que comia algo delicioso e fresco.
Não fez cara.
Ela não tinha cara.
Não tinha vento.
Não tinha frio.
Terminou sua marmita e retornou ao trabalho.
Ainda faltavam 4 horas para desatar todo aquele batalhão de nós.
Sentou-se no chão, e voltou seu olhar sem olhos para o primeiro nó molhado.
Findado este, pegou o próximo.
No dia seguinte,
ela estava ali. Frente a um exército de nós que deveriam ser desatados.

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